Sínodo: a Mensagem Final do Papa Francisco -texto integral
FONTE: http://pt.radiovaticana.va/news/2015/10/24/s%C3%ADnodo_a_mensagem_final_do_papa_francisco_-_texto_integral/1181861
NSAConcluíram-se os trabalhos do Sínodo dos Bispos sobre a Família. Na sessão final o Papa Francisco dirigiu-se aos padres sinodais sublinhando que encerrar o Sínodo significa voltar realmente a "caminhar juntos" para levar a toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus. Publicamos aqui o texto integral do Santo Padre:
Amadas Beatitudes, Queridos irmãos e irmãs!
Quero, antes de mais, agradecer
ao Senhor por ter guiado o nosso caminho sinodal nestes anos através do
Espírito Santo, que nunca deixa faltar à Igreja o seu apoio.
Agradeço de todo o coração ao
Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-Geral do Sínodo, a D. Fabio Fabene,
Subsecretário e, juntamente com eles, agradeço ao Relator, o Cardeal Peter
Erdö, e ao Secretário Especial, D. Bruno Forte, aos presidentes delegados, aos
secretários, consultores, tradutores e todos aqueles que trabalharam de forma
incansável e com total dedicação à Igreja: um cordial obrigado!
Agradeço a todos vós, amados
padres sinodais, delegados fraternos, auditores, auditoras e conselheiros,
párocos e famílias pela vossa activa e frutuosa participação.
Agradeço ainda a todas as
pessoas que se empenharam, de forma anónima e em silêncio, prestando a sua
generosa contribuição para os trabalhos deste Sínodo.
Estai certos de que a todos
recordo na minha oração ao Senhor para que vos recompense com a abundância dos
seus dons e graças!
Enquanto acompanhava os trabalhos
do Sínodo, pus-me esta pergunta: Que há-de significar, para a Igreja, encerrar
este Sínodo dedicado à família?
Certamente não significa que
esgotámos todos os temas inerentes à família, mas que procurámos iluminá-los
com a luz do Evangelho, da tradição e da história bimilenária da Igreja,
infundindo neles a alegria da esperança, sem cair na fácil repetição do que é
indiscutível ou já se disse.
Seguramente não significa que
encontrámos soluções exaustivas para todas as dificuldades e dúvidas que desafiam
e ameaçam a família, mas que colocámos tais dificuldades e dúvidas sob a luz da
Fé, examinámo-las cuidadosamente, abordámo-las sem medo e sem esconder a cabeça
na areia.
Significa que solicitámos todos
a compreender a importância da instituição da família e do Matrimónio entre
homem e mulher, fundado sobre a unidade e a indissolubilidade e a apreciá-la
como base fundamental da sociedade e da vida humana.
Significa que escutámos e
fizemos escutar as vozes das famílias e dos pastores da Igreja que vieram a
Roma carregando sobre os ombros os fardos e as esperanças, as riquezas e os
desafios das famílias do mundo inteiro.
Significa que demos provas da
vitalidade da Igreja Católica, que não tem medo de abalar as consciências
anestesiadas ou sujar as mãos discutindo, animada e francamente, sobre a
família.
Significa que procurámos olhar
e ler a realidade, melhor dito as realidades, de hoje com os olhos de Deus,
para acender e iluminar, com a chama da fé, os corações dos homens, num período
histórico de desânimo e de crise social, económica, moral e de prevalecente
negatividade.
Significa que testemunhámos a
todos que o Evangelho continua a ser, para a Igreja, a fonte viva de novidade
eterna, contra aqueles que querem «endoutriná-lo» como pedras mortas para as
jogar contra os outros.
Significa também que espoliámos
os corações fechados que, frequentemente, se escondem mesmo por detrás dos
ensinamentos da Igreja ou das boas intenções para se sentar na cátedra de
Moisés e julgar, às vezes com superioridade e superficialidade, os casos
difíceis e as famílias feridas.
Significa que afirmámos que a
Igreja é Igreja dos pobres em espírito e dos pecadores à procura do perdão e
não apenas dos justos e dos santos, ou melhor dos justos e dos santos quando se
sentem pobres e pecadores.
Significa que procurámos abrir
os horizontes para superar toda a hermenêutica conspiradora ou perspectiva
fechada, para defender e difundir a liberdade dos filhos de Deus, para
transmitir a beleza da Novidade cristã, por vezes coberta pela ferrugem duma
linguagem arcaica ou simplesmente incompreensível.
No caminho deste Sínodo, as
diferentes opiniões que se expressaram livremente – e às vezes, infelizmente,
com métodos não inteiramente benévolos – enriqueceram e animaram certamente o
diálogo, proporcionando a imagem viva duma Igreja que não usa «impressos
prontos», mas que, da fonte inexaurível da sua fé, tira água viva para saciar
os corações ressequidos.1
E vimos também – sem entrar nas
questões dogmáticas, bem definidas pelo Magistério da Igreja – que aquilo que
parece normal para um bispo de um continente, pode resultar estranho, quase um
escândalo, para o bispo doutro continente; aquilo que se considera violação de
um direito numa sociedade, pode ser preceito óbvio e intocável noutra; aquilo
que para alguns é liberdade de consciência, para outros pode ser só confusão.
Na realidade, as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral,
se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado.2
O Sínodo de 1985, que
comemorava o vigésimo aniversário do encerramento do Concílio Vaticano II,
falou da inculturação como da «íntima transformação dos autênticos valores
culturais mediante a integração no cristianismo e a encarnação do cristianismo
nas várias culturas humanas».3 A inculturação não debilita os valores
verdadeiros, mas demonstra a sua verdadeira força e a sua autenticidade, já que
eles adaptam-se sem se alterar, antes transformam pacífica e gradualmente as
várias culturas.4
Vimos, inclusive através da
riqueza da nossa diversidade, que o desafio que temos pela frente é sempre o
mesmo: anunciar o Evangelho ao homem de hoje, defendendo a família de todos os
ataques ideológicos e individualistas.
E, sem nunca cair no perigo do
relativismo ou de demonizar os outros, procurámos abraçar plena e corajosamente
a bondade e a misericórdia de Deus, que ultrapassa os nossos cálculos humanos e
nada mais quer senão que «todos os homens sejam salvos» (1 Tim 2, 4), para
integrar e viver este Sínodo no contexto do Ano Extraordinário da Misericórdia
que a Igreja está chamada a viver.
Amados irmãos!
A experiência do Sínodo fez-nos
compreender melhor também que os verdadeiros defensores da doutrina não são os
que defendem a letra, mas o espírito; não as ideias, mas o
homem; não as fórmulas, mas a
gratuidade do amor de Deus e do seu perdão. Isto não significa de forma alguma
diminuir a importância das fórmulas, das leis e dos mandamentos divinos, mas
exaltar a grandeza do verdadeiro Deus, que não nos trata segundo os nossos
méritos nem segundo as nossas obras, mas unicamente segundo a generosidade
sem limites da sua Misericórdia (cf. Rm 3, 21-30; Sal 129/130; Lc 11,
37-54).
Significa vencer as tentações
constantes do irmão mais velho (cf. Lc 15, 25-32) e dos trabalhadores invejosos
(cf. Mt 20, 1-16). Antes, significa valorizar ainda mais as leis e os
mandamentos, criados para o homem e não vice-versa (cf. Mc 2, 27).
Neste sentido, o necessário
arrependimento, as obras e os esforços humanos ganham um sentido mais profundo,
não como preço da Salvação – que não se pode adquirir – realizada por Cristo
gratuitamente na Cruz, mas como resposta Àquele que nos amou primeiro e salvou
com o preço do seu sangue inocente, quando ainda éramos pecadores (cf. Rm 5,
6).
O primeiro dever da Igreja não
é aplicar condenações ou anátemas, mas proclamar a misericórdia de Deus, chamar
à conversão e conduzir todos os homens à salvação do Senhor (cf. Jo 12, 44-50).
Do Beato Paulo VI
temos estas palavras estupendas: «Por conseguinte podemos pensar que cada um
dos nossos pecados ou fugas de Deus acende n’Ele uma chama de amor mais
intenso, um desejo de nos reaver e inserir de novo no seu plano de salvação
(...). Deus, em Cristo, revela-Se infinitamente bom (...). Deus é bom. E não
apenas em Si mesmo; Deus – dizemo-lo chorando – é bom para nós. Ele nos ama,
procura, pensa, conhece, inspira e espera… Ele – se tal se pode dizer – será
feliz no dia em que regressarmos e Lhe dissermos: Senhor, na vossa bondade,
perdoai-me. Vemos, assim, o nosso arrependimento tornar-se a alegria de Deus».5
Por sua vez São João Paulo
II afirmava que «a Igreja vive uma vida autêntica, quando professa e
proclama a misericórdia, (...) e quando aproxima os homens das fontes da
misericórdia do Salvador das quais ela é depositária e dispensadora».6
Também o Papa Bento XVI
disse: «Na realidade, a misericórdia é o núcleo da mensagem evangélica, é o
próprio nome de Deus (...). Tudo o que a Igreja diz e realiza, manifesta a
misericórdia que Deus sente pelo homem, portanto, por nós. Quando a Igreja deve
reafirmar uma verdade menosprezada, ou um bem traído, fá-lo sempre estimulada
pelo amor misericordioso, para que os homens tenham vida e a tenham em
abundância (cf. Jo 10, 10)».7
Sob esta luz e graça, neste
tempo de graça que a Igreja viveu dialogando e discutindo sobre a família,
sentimo-nos enriquecidos mutuamente; e muitos de nós experimentaram a acção do
Espírito Santo, que é o verdadeiro protagonista e artífice do Sínodo. Para
todos nós, a palavra «família» já não soa como antes, a ponto de encontrarmos
nela o resumo da sua vocação e o significado de todo o caminho sinodal.8
Na verdade, para a Igreja,
encerrar o Sínodo significa voltar realmente a «caminhar juntos» para levar a
toda a parte do mundo, a cada diocese, a cada comunidade e a cada situação a
luz do Evangelho, o abraço da Igreja e o apoio da misericórdia Deus!
Obrigado!
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