As práticas
sociopolíticas.
Helio
Amorim
Movimento
Familiar Cristão
Aquela velha história do
peixe e do anzol procura recuperar o valor de ações promocionais ante a pobreza,
mas convém ser realista e corrigir o enunciado antigo. Com efeito, a quem está
com fome, vamos primeiro dar o peixe para que não morra e só depois da fome
vencida ensinar-lhe a pescar.
Constrói boas
casas mas mora em barracos miseráveis. Os donos das máquinas e das fábricas, das
fazendas e usinas, aqueles que investem seu capital na produção possuirão tudo o
que braços e mentes produzirão. Aos trabalhadores pagarão salários insuficientes
para comprar as coisas que produzem. Quer dizer, aquele que pesca não tem o
direito de comer o peixe que pescou.
Este é o
complemento daquele ditado.
Essa equação cruel
faz parte da lógica do sistema capitalista em sua forma habitualmente selvagem,
que hoje se reveste de uma vistosa e enganosa roupagem chamada neoliberal. Tudo
será regulado pelo deus-mercado, cuja "mão invisível" cuidará que as tensões se
equilibrem magicamente, dela resultando misteriosamente a justiça social e a
paz, com igualdade de oportunidades para todos, numa sociedade igualitária e
feliz.
O que observamos,
mesmo os mais distraídos, é que essa utopia multissecular de Adam Smith nunca se
realizou, em nenhuma parte do mundo. Somente os países mais ricos conseguem se
aproximar desse sonho utópico, à custa da histórica exploração dos países menos
desenvolvidos, condenados à eterna pobreza e atraso.
Voltando ao pobre
pescador, percebemos que esses mecanismos espoliadores são próprios de
estruturas socioeconômicas desumanizadoras intoleráveis. O cristão
conscientizado identifica essas engrenagens. Em sua ação profética, denuncia a
sua maldade intrínseca. Também compreende que a denúncia não é suficiente. É
urgente transformar essa realidade contrária ao projeto de Deus.
Essas
transformações somente acontecerão por via política. O cristão é chamado a uma
atuação política efetiva, num leque amplo de possibilidades e alternativas
eficazes. Além da militância ativa em partidos políticos, são inúmeras outras as
oportunidades de ações dessa natureza através da participação nas múltiplas
estruturas sociais intermediárias existentes ou que podem ser
criadas.
Paulo VI, na
"Octogesima Adveniens" afirma que a ação política é uma das mais nobres maneiras
de o cristão atuar no mundo, para transformá-lo.
A política, em
suas variadas expressões, é o instrumento próprio para perseguir-se esse
objetivo. É espaço a ser ocupado pelos cristãos, como opção de
fé.
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Então podemos
reescrever o pensamento famoso: “a quem tem fome, dar o peixe, antes que
morra; logo que possível, vencida a fome, dar-lhe o anzol e ensinar-lhe a
pescar, mas também assegurar-lhe esse direito, para que não fique para sempre
dependente do dono do pesqueiro; em seguida, juntar-se a ele na luta política
pelo direito de comer o peixe que pescou”.
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